28/05/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
ABISMOS DE PASIÓN
O Monte dos Vendavais
de Luis Buñuel
com Jorge Mistral, Irasema Dilian, Lilia Prado, Ernesto Alonso
México, 1953 – 90 min / legendado eletronicamente em português
GUNNAR HEDES SAGA
“A Casa Solarenga”
de Mauritz Stiller
com Einar Hanson, Mary Johnson, Stima Berg
Suécia, 1922 – 62 min / mudo, intertítulos em sueco legendados em português
ABISMOS DE PASIÓN é, sem a menor dúvida, um dos pontos mais fortes do período mexicano de Buñuel. Guillermo Cabrera Infante disse deste filme que era “um mau Brontë, mas um bom Breton”, destacando a sua dimensão surrealista. Note-se que no título da versão buñueliana de WUTHERING HEIGHTS passamos do “monte” aos “abismos”, o que inverte todas as conotações. Apesar disso (ou por causa disso), esta adaptação do romance de Emily Brontë é fiel ao espírito da obra, acentuando a “possessão” de Heathcliff/Alejandro na siderante cena final no cemitério (a preferida de Buñuel), nec plus ultra do “amour fou” no cinema. O Monte dos Vendavais como nunca foi filmado (basta compará-lo com a académica versão de William Wyler ou com a anémica versão de Jacques Rivette). Baseado num romance de Selma Lagerlöf, cujo título literal é A História de Gunnar Hede (A CASA SOLARENGA é a transposição do título francês da obra, LE VIEUX MANOIR), este filme magnífico reúne as mais belas qualidades do grande mestre da mise en scène que foi Mauritz Stiller (que nos anos vinte Louis Delluc comparava ao poeta medieval Charles d’Orléans): personagens nitidamente individualizadas, perfeição do “timing”, utilização dos cenários naturais como personagens do drama, sentido plástico e “recusa da mediocridade”, segundo as palavras de Delluc. Neste filme, um rapaz de uma família endinheirada apaixona-se por uma acrobata de uma companhia ambulante, o que suscita a oposição da sua mãe. Ele perde a memória na sequência de um acidente (numa célebre sequência filmada numa floresta coberta de neve) e recupera-a, ao reencontrar a jovem, no que é uma sublime história de amor. Como observou um historiador, neste filme Stiller “soube reunir o burlesco, o documentário e o fantástico”.