CICLO
Foco no Arquivo


As sessões “Foco no Arquivo” de maio seguem projetos ligados à investigação e à sua relação com a coleção da Cinemateca. A sessão “Coleção Colonial da Cinemateca: Campo, Contracampo, Fora de Campo” prolonga as anteriormente dedicadas a uma discussão continuada sobre esta importante parte do acervo fílmico da Cinemateca, organizadas em colaboração com a “Aleph – rede de acção e investigação crítica da imagem colonial”. A Aleph promove a cooperação e partilha de conhecimento entre investigadores académicos, artistas e cidadãos interessados na imagem colonial, colabora com arquivos detentores de coleções coloniais na sensibilização para questões de acessibilidade e preservação dos acervos e promove a partilha de conhecimento. Este mês, Leandro Mendonça, docente na Universidade Federal Fluminense (Rio de Janeiro), apresenta um conjunto de curtas-metragens rodadas em Angola.
No seguimento de uma programação que teve lugar durante o ano 2015 na Cinemateca, no âmbito do projeto de investigação “WORKS – O trabalho no ecrã: um estudo de memórias e identidades sociais através do cinema” financiado pela FCT, o novo ciclo “Olhares do cinema sobre o trabalho” adota uma perspetiva mais ampla, procurando destacar formas várias de diálogo entre arquivos e cinematografias nacionais e internacionais. Procura-se refletir sobre temáticas e problemas sociais que atravessam os filmes. Ao longo do ano 2016, esta programação vai propondo aos espetadores visões distintas sobre aspetos como a precariedade, os espaços de trabalho ou as condições de vida. Este ciclo é dinamizado por Luísa Veloso (CIES-IUL), Frédéric Vidal (CRIA-IUL) e João Rosas. Na sessão de maio será mostrada uma seleção de curtas-metragens sobre Setúbal e representativas das várias facetas desta cidade enquanto território de trabalho.
As duas sessões “Cinema e Turismo: modos de ver e mostrar“ continuam o Ciclo “Viagens, olhares e imagens: Portugal 1910-1980”, organizado no âmbito do projeto exploratório “Atrás da câmara: práticas de visibilidade e mobilidade no filme turístico português” (EXPL/IVC-ANT/1706/2013; financiado por fundos nacionais através da FCT/MCTES). Este projeto foi desenvolvido no ANIM e no CRIA entre abril de 2014 e setembro de 2015 por uma equipa de investigadores coordenados por Sofia Sampaio (CRIA-IUL). A seleção feita para estas duas sessões procura mostrar o modo como cineastas portugueses, “profissionais ou amadores”, foram usando as inovações tecnológicas ao seu dispor na realização dos seus filmes. As sessões deste mês são apresentadas por Gonçalo Mota, bolseiro de investigação do projeto “Atrás da câmara”.
 

 
02/05/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Foco no Arquivo

Coleção Colonial da Cinemateca: Campo, Contracampo, Fora de Campo
duração total da sessão: 73 min | M/12
 
11/05/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Foco no Arquivo

Territórios de Trabalho
duração total da sessão: 68 min | M/12
17/05/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Foco no Arquivo

Cinema e Turismo: Modos de Ver e Mostrar I
duração total da sessão: 62 min | M/12
31/05/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Foco no Arquivo

Cinema e Turismo: Modos de Ver e Mostrar II
duração total da sessão: 67 min | M/12
02/05/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Foco no Arquivo
Coleção Colonial da Cinemateca: Campo, Contracampo, Fora de Campo
duração total da sessão: 73 min | M/12
sessão apresentada por Leandro Mendonça, docente na Universidade Federal Fluminense (Rio de Janeiro)

REGRESSO À TERRA DO SOL
de José Fonseca e Costa
Portugal, 1967 – 21 min
ANGOLA – TERRA DO PASSADO E DO FUTURO
de António Escudeiro
Portugal, 1972 – 17 min
A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA: OS ENCONTROS DE ALVOR
de José Fonseca e Costa, António Escudeiro
Portugal, 1977 – 16 min
A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA (II PARTE): O GOVERNO DE TRANSIÇÃO
de José Fonseca e Costa, António Escudeiro, José Carlos Barradas, Pedro Macosse
Portugal, 1977 – 19 min

Esta sessão contrasta dois olhares e dois usos do cinema muito diferentes, embora resultado do trabalho dos mesmos realizadores: José Fonseca e Costa e António Escudeiro, que coassinam os dois últimos filmes (com José Carlos Barradas e Pedro Macosse). REGRESSO À TERRA DO SOL e ANGOLA – TERRA DO PASSADO E DO FUTURO são duas obras de encomenda. O primeiro publicita o Banco Comercial de Angola, cuja sede era então o edifício mais alto de Luanda. O segundo foi patrocinado pela Companhia União de Cervejas de Angola, de Manuel Vinhas, e elenca, do ponto de vista do colonialismo português, as “riquezas naturais e industriais” de Angola. Num registo diametralmente oposto, A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA é um documentário, em duas partes, sobre o processo de descolonização daquele país, produzido por Francisco de Castro.
 

11/05/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Foco no Arquivo
Territórios de Trabalho
duração total da sessão: 68 min | M/12
sessão apresentada por Luísa Veloso (CIES-IUL), Frédéric Vidal (CRIA-IUL) e João Rosas

PESCADORES DE SETÚBAL
Portugal, 1941 – 5 min
SETÚBAL: SUAS INDÚSTRIAS
de Virgílio Nunes
Portugal, 1930 – 22 min
SETÚBAL: SUAS PRODUÇÕES
de Virgílio Nunes
Portugal, 1930 – 20 min
SETÚBAL
de Fernando de Almeida
Portugal, 1956 – 21 min

Após os espaços de trabalho, a sessão do Ciclo “Olhares do cinema sobre o trabalho” de maio foca um território clássico do trabalho em Portugal – Setúbal – e a sua progressiva transformação em zona de interesse turístico. O primeiro filme (que recupera imagens de 1920), mostra a atividade piscatória ao largo da cidade. O segundo e o terceiro, encomendas da Comissão de Iniciativa de Setúbal – e que muito provavelmente terão sido mostrados em 1930 como parte da mesma obra de longa-metragem –, inventariam as diferentes indústrias a região: a cerâmica, o cimento, os adubos químicos, novamente a pesca da sardinha, as famosas conserveiras, o vinho moscatel, o arroz e o sal. O último filme da sessão, patrocinado pela Câmara Municipal de Setúbal em 1956, apresenta um roteiro turístico da região sem todavia omitir algumas das atividades industriais referidas nos filmes anteriores.
 

17/05/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Foco no Arquivo
Cinema e Turismo: Modos de Ver e Mostrar I
duração total da sessão: 62 min | M/12
sessão apresentada por Gonçalo Mota, bolseiro de investigação do projeto “Atrás da câmara”

A CIDADE DO PORTO
Portugal, 1913 - 15 min
A FESTA DOS TABOLEIROS EM TOMAR
de Artur Costa de Macedo
Portugal, 1929 – 9 min
PASSEIO NA SERRA DA ESTRELA
Portugal, 1939 – 6 min
ALGARVE EM FLOR
Portugal, 1940 – 11 min
de Fernando Ponte e Sousa
VALE DO VOUGA
de Armando de Miranda
Portugal, 1946 – 7 min
UM PASSEIO A SINTRA COM AS MENINAS
de João Rocha dos Santos
ALENTEJO NÃO TEM SOMBRA
de Orlando Vitorino e Azinhal Abelho
Portugal, 1952 – 14 min

Esta sessão começa com um filme sobre o Porto, pródigo em vistas da cidade, nas quais se nota que a câmara não pretende apenas captar o movimento do mundo, mas também mover-se no mundo, nomeadamente através do uso de panorâmicas e travellings. Passamos depois para os efeitos de laboratório (“split screen”, superimposições) do segundo filme, sobre Tomar, que, curiosamente, inclui já publicidade aos estabelecimentos hoteleiros da cidade. UM PASSEIO NA SERRA DA ESTRELA revela a afinidade das práticas turísticas e de viagem com a prática cinematográfica, num formato de 8 mm, cujo resultado final, com intertítulos humorísticos, torna mais ténue a divisão entre cinema amador e cinema profissional. Já o filme de Fernando Ponte e Sousa traz-nos, num tom melodramático, um “comentário cantado” sobre o que se vê. Também faz uso criativo da montagem, estabelecendo uma certa continuidade narrativa. Outros aspetos de interesse incluem: um frenético filme de viagem pelo Vale do Vouga dominado pelo comboio; o caso curioso de um filme doméstico ou ‘de família’, filmado por um profissional contratado para registar o passeio, em Sintra, de um empresário e as suas netas ou sobrinhas; e uma espécie de poema grandiloquente sobre o Alentejo, que ilustra bem o tom e estilo que se tornaram comuns num certo tipo de filmes regionais financiados por organismos estatais.
 

31/05/2016, 18h30 | Sala Luís de Pina
Foco no Arquivo
Cinema e Turismo: Modos de Ver e Mostrar II
duração total da sessão: 67 min | M/12
sessão apresentada por Gonçalo Mota, bolseiro de investigação do projeto “Atrás da câmara”

CABO VERDE DE RELANCE
de Miguel Spiguel
Portugal, 1961 – 17 min
PARA UM ÁLBUM DE LISBOA
de Faria de Almeida
Portugal, 1966 – 13 min
POSTAL DE LUANDA
de Faria de Almeida
Portugal, 1970 – 10 min
CENAS DE CAÇA NO BAIXO ALENTEJO
de António de Macedo
Portugal, 1973 – 20 min
VERÃO 74
de Nuno Shearman de Macedo Alvarenga
Portugal, 1974 – 7 min
 

Esta sessão abre com um filme a cores, tecnicolor e em formato anamórfico, de Miguel Spiguel, realizador que se especializa em filmes turísticos sobre Portugal e as ex-colónias. Nestes filmes salta à vista o uso de longas panorâmicas na descrição da paisagem cabo-verdiana. Os anos sessenta são anos de mudança nos modos de fazer cinema em Portugal e os dois filmes de Faria de Almeida integrados na sessão são exemplo disso. No primeiro, o realizador oferece-nos uma visão satírica de Lisboa com recursos a técnicas do cinema mudo (tais como intertítulos), ou mesmo a imagens de arquivo. No segundo, aquilo que aparenta ser um filme assumidamente turístico e convencional, com planos aéreos, a dieta habitual de “pitoresco angolano” e um claro abuso na utilização de zoom, revela-se mais interessante, com a introdução de um comentário na primeira pessoa sobre a cidade ao som da música de Carlos Paredes, que altera por completo o tom do filme. Também António de Macedo necessitou de realizar filmes de encomenda para poder trabalhar, mas não sem ver neles um campo de experimentação, como neste filme rodado no Baixo Alentejo, que acaba por se construir, nas palavras do próprio autor, como um “antifilme”. A fechar a sessão, um pequeno filme amador de uma família em férias na praia. São imagens cândidas, filmadas em 8 mm, que prenunciam o acesso generalizado a meios de captura de imagem e som, que entretanto atingiram níveis massivos no registo de práticas turísticas e de viagem das sociedades contemporâneas.